Viver
Há decisões que nos afectam mas sobre as quais não temos qualquer controlo. As coisas escapam-nos das mãos e basta um piscar de olhos para repararmos que tudo se alterou. Ao olharmos à nossa volta, encontramo-nos num mundo desconhecido sem sabermos como lá fomos parar. Tudo é irreconhecível. Procuramos incessantemente um vestígio que nos ligue, uma sensação que nos abrace, um qualquer dejá vu volátil que comunice algo com significado. Temos de andar, mas as raízes cresceram e o chão de areias movediças é ameaçador. Ignoram-nos....
O horizonte fica mais longe, o céu... nem o conseguimos ver. E somos pequenos, tão pequenos. Passadas de gigante ecoam nas nossas cabeças, somos atacados por raios de luz, e só queremos voltar atrás, àquele momento do passado antes de tudo acontecer. Abrimos a boca mas não sai um único som. Gritamos calados, meros fantasmas espectrais. Não somos alguém...
Mas no fumo que distorce a visão, uma figura se torna mais nítida. A esperança começa a brilhar, assustada, e um rasgo de vida percorre-nos as veias. Somos injectados de êxtase e o chão que pisamos solidifica. As raízes sucumbiram e algo nos empurra para a frente. É um choque violento que nos toma de surpresa, mas restabelecemos o equilíbrio. Já vemos o horizonte, longíquo ainda. Caminhamos. Passo a passo. Erguemos a cabeça, inspiramos fundo e esboçamos um sorriso na nossa face... Começamos de novo a viver.
1 Comments:
At 11:44 da tarde,
BlueTraveler said…
Viver é mesmo isso...
Se não tivessemos medo, dúvidas, incertezas e outros sentimentos destes, de que valeria?
Viver sempre na certeza, no concreto, na lógica não nos leva a lado nenhum.
Faz de nós maquinas produtivas e insensíveis.
Fica feliz por isso... e sobretudo pela capacidade de ter esperança e sonhar;)
Força
Beijos
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